segunda-feira, 27 de novembro de 2017

“O desemprego pode levar os jovens à depressão”

Nos últimos anos, o desemprego, no seio da camada juvenil cabo-verdiana, tem sofrido oscilações, evidenciando uma certa instabilidade do mercado laboral. A situação é preocupante, principalmente, porque tem atingido cada vez mais os jovens quadros do país.
Jelson Cabral terminou, há pouco tempo, a sua formação profissional. Jovem, conta 24 primaveras. Formou-se em Eletricidade Eletrônica. Não morava muito longe da escola, pois da Terra Branca para a Escola Técnica Cesaltina Ramos, em Achada Santo António, podia apenas apanhando um autocarro. Mas, nem isso fazia. O percurso era feito, contando os passos, já que não tinha como pagar qualquer tipo de transporte.
Após o término da formação, foi à procura de um estágio profissional para consolidar a sua formação. Várias foram as tentativas. Entre o ir e o vir, continua a navegar em mares turvos: ainda, nenhum trabalho conseguiu. Pior do que isso, nem um estágio, essa artimanha que muitas empresas usam para pôr os jovens a trabalharem, gratuitamente, por um tempo bem prolongado.

“Já procurei trabalho, perguntei às pessoas, procurei nas empresas, deixei os meus documentos em várias instituições, fiz tudo aquilo que achei que deveria fazer, mas até agora nada”, confessa o jovem.
Jelson não está sozinho. Aliás, pertence a um pelotão que tende a engrossar-se dia por dia, com as novas saídas de universidades e instituições de formação profissional. Assim, a história de Jelson é mais uma das várias que existem em Cabo Verde. Na verdade, essa realidade se plagia um pouco pelo mundo fora. Muitos jovens dedicaram anos de estudo, investindo tempo e dinheiro, na esperança de virem a trabalhar na área de seus sonhos. Entretanto, a falta de trabalho no país (e, muitas vezes, fora dele), veio a pôr fim a muitos sonhos.

As taxas de Desemprego no país
Há muito que o desemprego vem-se tornando uma das maiores preocupações de qualquer sociedade. Cabo Verde é um dos países que mais sofre com o problema. O desemprego afeta sobretudo a camada juvenil. Um outro fator bastante preocupante tem a ver com os jovens que terminaram a formação profissional ou o ensino superior e não conseguiram singrar-se no mercado do trabalho.
Vale ressaltar que é considerado desempregado todo indivíduo que não exerceu qualquer atividade económica no período de referência, estando ele disponível para trabalhar e tendo procurado ativamente um trabalho. Desta forma, um indivíduo que não sai à procura de um trabalho não faz parte do mapa de desempregados do país. O Inquérito Multi-Objetivo Contínuo (IMC) revela ao jornal A Semana que o desemprego é mais elevado nas pessoas com estudos secundários (16,3%), pós-secundário (11,2%) e primário (10,2%). Esses são dados do ano de 2014.
Para entender melhor a situação de desemprego em Cabo Verde é preciso ver os dados referentes ao assunto, nos diferentes anos. De acordo com as informações disponibilizadas no site do Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE), em 2000, a taxa de desemprego era de 8,60%. A sua evolução aconteceu nas seguintes proporções: em 2005 passa para 21,40%, em 2006 cai para 13,50%, em 2007 volta a subir e chega a 15,20%, em 2008 vai para 10,00%, em 2009 chega 13,00, em 2010 regressa a 10,70%, em 2011 conta-se em 12,20%. Assim, chegamos a 2012 com 16,80%, mantendo-se quase inalterado em 2013 (16,40%). Os dados mais atuais, de 2016, indicam que a taxa de desemprego no ano passado era de 15,00 %.  
Esses dados mostram claramente que a questão do desemprego em Cabo Verde é algo preocupante, tendo em conta a sua instabilidade. De 2000 para 2016, o desemprego tem sofrido inflexões negativas e positivas, consoante alguns fatores sociais. Verifica-se que as percentagens variam de 8 a 16%.

Os males que o desemprego traz consigo
O desemprego traz consigo vários problemas. São elas de ordem social, económica, pessoal e psicológica. O desemprego gera mais violência e delinquência na sociedade, visto que, os maiores causadores da violência são os jovens. Sem como se sustentar e de ajudar a família, o jovem, por vezes, vê o crime como a luz ao fundo do túnel.
As consequências de ordem económicas são as mais comuns. Um indivíduo que não tem nenhuma forma de receber um salário está sujeito a passar fome, a ter sérias dificuldades financeiras e levar uma vida imbuída em indignidade. Já, as consequências de ordem psicológicas são as menos conhecidas, sobretudo porque se manifestam no interior do indivíduo, apesar de muitas vezes trazerem consigo sequelas físicas ou exteriores.
O médico e psicólogo Ledo Pontes, explica que as consequências são várias. “Um jovem licenciado desempregado que tinha um sonho para realizar depois da sua formação que não está a encontrar trabalho, vai ficar um pouco desanimado com a vida. Desta forma tenta emigrar para procurar o trabalho”, frisa.
Jelson não é indiferente às consequências do desemprego. Revela que ficar em casa sem ter o que fazer, não poder ajudar a família como deseja, e também não poder evoluir na vida e concretizar os planos de construir sua própria família e ter o seu lar, afeta-lhe na sua vida pessoal.
A escolha da área, curso ou formação é o primeiro e decisivo passo para o sucesso ou insucesso dos jovens em relação ao emprego. É importante escolher o curso que a pessoa gosta, como é o caso de Cabral que diz ter escolhido a área de instalação e manutenção de equipamentos automáticos programados, porque sempre gostou de tecnologias.
Para Ledo Pontes, sem trabalho, os jovens procuram fazer algumas coisas que não eram sua intenção: “muitas vezes, têm dívidas a pagar com o país que suportou os seus estudos ou empréstimos que fizeram nos bancos, querem construir família e não podem, e isso tudo pode levar à depressão”, realça o psicólogo.
Há casos em que os jovens encontram um trabalho fora da sua área de formação e não o aceitam. Este não é o caso do Jelson, pois o mesmo afirma que se encontrar um trabalho numa outra área vai aceitar, pois está à procura de rendimentos para se sustentar. O técnico termina dizendo que adoraria que fosse na sua área de formação, por ser o trabalho que ama. “Se estiver a trabalhar nela, com certeza estarei feliz, porém se aparecer outro trabalho não descartarei, porque a falta de trabalho é pior do que não trabalhar na minha área de formação”, reforça Jelson Cabral.
Ledo Pontes deixa algumas dicas no sentido de os jovens formados desempregados debelarem, da melhor forma, este flagelo social. “Estes jovens têm que ter um apoio psicológico e dos governantes para ter outras alternativas até encontrar trabalho. Buscar formas de sustentar-se e não cair em frustração. E, por exemplo, podem ser empreendedores e realizar outras atividades que não estejam na sua área de formação”.  
Para se combater ou diminuir o desemprego no país, é preciso haver um engaje de todos. A falta de trabalho não afeta apenas as pessoas desempregadas, mas toda a sociedade.
Por: Ivanilda Cabral

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