quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A Espanha: o desembocar da situação político-social da Catalunha, a quase independência


F:\transferir (4).jpgA Espanha vive um momento de elevada tensão política, enquanto uma das suas regiões mais importantes pressiona pelo divórcio, uma questão que há séculos paira sobre os ares do país. A Catalunha, cuja capital é a famosa cidade de Barcelona, marcou, para o passado dia 1 de Outubro deste ano, um referendo com vista a permitir que os cidadãos se posicionasse sobre a possibilidade ou não de independência. O seu território ainda faz parte da Espanha, mas usufrui de forte autonomia política e administrativa, à semelhança de várias outras regiões autónomas daquele país europeu, como a Galiza, as Canárias ou o País Basco, um dos mais reivindicadores da independência, entretanto, um pouco adormecido actualmente.
Embora nunca tenha sido uma nação independente, a Catalunha tem um governo regional, conhecido como Generalitat, com as suas próprias instituições como a polícia (os Mossos d'Esquadra) e também uma Suprema Corte. Além disso, tem o seu próprio idioma oficial, o catalão, que é falado pela maioria da população, embora o espanhol seja também comumente ouvido nas ruas e ensinado nas escolas. Apesar de serem parecidos para quem os ouve pela primeira vez, o catalão e o espanhol não são da mesma família entre as línguas latinas, nem variações do mesmo idioma.
Para os catalães, a separação é uma oportunidade de reforçar a sua identidade, sobretudo no campo da cultura e da língua. Muitos separatistas dizem que não se sentem espanhóis ou não concordam com as políticas adotadas por Madrid. Este é um fator, inclusive, que vem se fortalecendo nos últimos anos, sobretudo em termos económicos, somando-se à causa cultural dos independentistas.
Catalunha: Por detrás das batalhas independentistas
F:\transferir (5).jpgCatalunha é uma das 17 comunidades autónomas espanhola, unidades administrativas que repartem todo o país em regiões mais ou menos como os Estados no Brasil, mas com pouco mais de autonomia política, económica e jurídica. A figura das comunidades autónomas surgiu na Constituição de 1978, após o final da ditadura franquista, onde o poder era extremamente centralizado. A ideia era, justamente, descentralizar o poder. Elas podem, portanto, aprovar leis e realizar as tarefas executivas que estejam estabelecidas em seu estatuto próprio. Têm, inclusive, um presidente que, no caso da Catalunha, se chama Carles Puigdemont. O Governo que ele preside se chama Generalitat e há, ainda, um parlamento próprio, o Parlament.

A diferença entre a Catalunha e a Comunidade Autónoma de Madrid, por exemplo, é que ela possui uma cultura e uma língua própria (o catalão), assim como acontece, por exemplo, com o País Basco e a Galiza. Ela está localizada no nordeste, na fronteira com a França, e é formada por quatro províncias: Girona, Lleida, Tarragona e Barcelona, que é a capital. Tem uma população aproximada de 7,5 milhões de habitantes (15% da população espanhola), o que a coloca como a segunda maior comunidade da Espanha (Andaluzia é a primeira).

Os independentistas afirmam que a Constituição de 1978 é "adversa aos catalães" e que há no país um processo de sufocação da autonomia e da descentralização da comunidade. Além disso, reclamam que a Catalunha, cuja economia é uma das mais importantes da Espanha –  uma vez que representa 19% do Produto Interno Bruto (PIB) espanhol –, contribuindo sobremaneira para o orçamento e o PIB espanhóis. Por isso, existe um sentimento dos catalães de que a região é usada para financiar as demais comunidades do país.

Em 2005, o Parlamento da Catalunha aprovou um novo estatuto de autonomia para atualizar o que estava em vigor desde 1979. Na ocasião, 120 dos 135 deputados regionais foram favoráveis ao texto, que tinha como um dos pontos principais o acréscimo do termo "nação" para se referir à comunidade autónoma e a criação de um Poder Judiciário próprio.

O Desembocar da Crise Actual
Dezassete meses depois de assumir a presidência da Generalitat, Puigdemont anunciou, a 10 de junho de 2017, que estava convocando um referendo popular para o passado 1 de outubro, em que se perguntaria à população: "Quer que a Catalunha seja um Estado independente em forma de República?".
Mariano Rajoy, actual chefe do Governo espanhol, recorreu ao Tribunal Constitucional, que afirmou que a consulta era inconstitucional, pois não estava prevista na Constituição. Ou seja, para acontecer, seria necessário mudar o texto constitucional. O Governo catalão respondeu que não acataria a decisão, despertando a reação do Governo central. Conforme os dias foram avançando, a tensão entre as duas partes foi-se aumentando: 14 membros do comando que organiza o referendo acabaram presos e 10 milhões de cédulas eleitorais foram apreendidas. Milhares de pessoas tomaram as ruas em protesto. Argumentam que a postura da Espanha é antidemocrática ao impedir uma consulta popular.

O Futuro: Alguma incerteza, com o 155 em cima da mesa
“Isso é algo que ninguém arrisca prever”. O temor de violência é grande, já que Governo determinou o fechamento dos colégios eleitorais e deslocou para a Catalunha 6.000 policiais. Rajoy também colocou sob o seu comando os Mossos, a polícia catalã que pertence ao Governo regional, mas ele não sabe se estes policiais seguirão as suas ordens. No resto da Espanha, a postura de Rajoy tem apoio maioritário, ainda que também se encontre críticas quanto à falta de habilidade do Primeiro-Ministro para lidar com a situação, que pode ter funcionado como combustível para que milhares de catalães tomem as ruas em protesto.
“ O que realmente vai acontecer agora é muito difícil de responder porque é complicado e impossível prever alguma coisa nesta situação. O curioso e caricato da história é que eu passei largo tempo em Barcelona, privei com os movimentos independentistas, tenho fotos de bandeirinha em manifestações de dois dias da região e da Generalitat. Hoje, anos mais tarde, moderei a minha opção e sou, confesso, um pouco soberanista, até porque não tenho dúvida que, apesar da forte influência dos independentistas, a maioria dos habitantes da Catalunha não é adepta da independência, porventura duma solução mais alargada de autonomia”.

Facto escondido do povo catalão, o não dito  
“Para o esbater desse forte sentimento autonomista, não obstante a forte máquina de propaganda que a rodeia, muito contribuiu o facto de se ter descoberto há poucos anos que Jordi Pujol, o grande obreiro da autonomia catalã e presidente da Generalitat entre trinta a quarenta anos, tinha uma fortuna fabulosa "escondida " na Suíça. O que ele justificou com uma herança paterna, creio. O autor do ditame "a minha primeira pátria é a Catalunha, a segunda é a Europa e a terceira é a Espanha” até pode ter razão quanto à proveniência do dinheiro, só que escondeu tudo de todos. Entretanto, descobriu que a família, particularmente, um dos filhos, recebia uma comissão por investimentos realizados por empresas na Catalunha, dinheiro que também foi descoberto na Suíça, levando ao desmoronar para muitos daquele ideal puro de independência para o maravilhoso povo da Catalunha”, afirmou José David Brasão, docente da Universidade Lusófona, em Portugal, em entrevista à Folha Académica.
O presidente da Catalunha, Carles Puigdemont, afirmou na passada quinta-feira, numa nova carta, que a independência será formalmente votada no Parlamento catalão se o Governo espanhol "persistir em impedir o diálogo e continuar a repressão". O Parlamento "pode prosseguir, se assim entender, a votação da declaração formal de independência que não votou no dia 10", afirma.

Segundo o jornal El País, Puigdemont não quis avaliar na sua nova carta a oferta de diálogo dentro do Congresso feita pelo Governo ou a possibilidade de convocar eleições regionais para evitar a aplicação do artigo 155 da Constituição. Ele ressaltou que o diálogo que pede deve se traduzir numa reunião com Rajoy. O que poderá acontecer daqui para a frente não se pode prever, mas o certo é que, a partir de hoje, não será mais como antes. A batalha contínua e a guerra não tem um fim previsto.

Por: Edneise Monteiro

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